A honestidade da obra de Nan Goldin introduz ao cânone da fotografia obras que são ao mesmo tempo comoventes e perturbadoras. Fotografando o que está ao seu redor, Goldin foi pioneira na promoção de uma perspectiva visual da cultura underground e da comunidade LGBT. Embora o demi-monde de Nova York tenha sido retratado na obra de fotógrafas consagradas como Diane Arbus, a câmera de Goldin faz seu habitat entre os corpos que retrata, transformando o trabalho em um diário pessoal e revelando os retratados não como excêntricos, mas como amigos, amantes e companheiros.
A exposição no Tate Modern se compõe em duas salas. A primeira, grande e com poucos trabalhos espalhados pelas paredes deu uma impressão de um ambiente desolado. Não ficou claro se a composição foi uma escolha curatorial, especialmente ao se tratar de uma artista tão prolífica. Algumas fotos têm como tema o sentimento de isolamento, o que faz sentido nesse tipo de ambiente. É o caso de Greer and Robert in Bed um retrato de um casal de amigos tirado no loft da fotógrafa. Greer Larkton, uma artista trans amiga de Goldin aparece numa composição que remonta fotografias instantâneas, sem pose, como num álbum de família. A disposição das duas figuras sugere um drama passional, e o texto na parede confirma que a artista buscou capturar a angústia do desejo não-resolvido. Goldin captura a cena de maneira casual mas com sensibilidade de quem conhece seus modelos a fundo.
A segunda sala remonta uma experiência comum na obra de Goldin. Durante os anos 1980 e 1990, a fotógrafa exibia suas fotografias em projeções de slides acompanhadas de música, para seus amigos e membros da comunidade artística em Nova York. Para divulgar a data das projeções ela utilizava pôsteres feitos com imagens de sua obra. Os impressos estão incluídos na exposição e adicionam autenticidade ao próximo espaço.
Na sala de projeção, as fotos de Goldin se revelam todo o seu potencial. Exibidas da mesma maneira que a artista fazia, as fotografias tomam uma significância ampliada, ajudadas pelo sequenciamento e pela música de fundo. A exibição é uma remontagem da série mais famosa de Goldin, The Ballad of Sexual Dependency, onde ela retrata momentos íntimos de casais que exprimem uma vasta gama de emoções. Os agrupamentos de imagens soltas poderiam ser interpretados como ciclos, primeiro imagens de paixão e o carinho, e então domesticidade, tédio, ressentimento, agressividade, e atividade sexual.
O gênio de Goldin está no jogo entre a especificidade do retrato de pessoas próximas, e a criação de imagens universais, que comentam sentimentos humanos, principalmente no que tange a relacionamentos amorosos. Goldin tem uma capacidade incrível de fazer o público médio não só contemplar punks, drag queens e usuários de drogas mas criar um veículo de empatia ao insistir na universalidade de cada um. Sua convivência nessas comunidades é o que a permite ser honesta. Mas é sua capacidade de projetar essas figuras para fora deste mundo é o que torna sua obra extremamente relevante para os dias de hoje.