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Washington Square, New York City, 1960. Courtesy Howard Greenberg Gallery, New York and Stephen Bulger Gallery, Toronto (Photographer's Gallery) : o autor foi descuidado e não lembrou de tirar fotos para esse blog, as imagens são do site da exposiçã…

Washington Square, New York City, 1960. Courtesy Howard Greenberg Gallery, New York and Stephen Bulger Gallery, Toronto (Photographer's Gallery) : o autor foi descuidado e não lembrou de tirar fotos para esse blog, as imagens são do site da exposição.

Dave Heath: Dialogues with Solitudes

Glauco Adorno June 5, 2019

O trabalho de Dave Heath reflete a solidão e a tristeza que são comumente atribuídas à sua biografia: abandonado pelos pais aos quatro anos, ele cresceu em orfanatos e viveu na pobreza. Heath descobriu fotografia na adolescência logo se tornou obcecado pelo meio. Praticamente autodidata, se aprimorou a ponto de obter reconhecimento em Nova York, estudar com W. Eugene Smith, e se tornou conhecido de Edward Steichen, diretor da coleção de fotografia do MoMA, que foi responsável por incluir sua obra no acervo do museu. Em 1965 Heath publicou A Dialogue with Solitude, considerado por muitos sua obra prima. Na publicação ele reúne fotografias de rua e textos de vários escritores e poetas que acompanham as obras. O fotógrafo fazia questão de frisar a sequência das imagens como parte integral do trabalho.

A exposição na Photographer’s Gallery, chamada de Dialogues with Solitudes é uma referência a uma nova publicação (impressa pelo mestre de produção gráfica Gerhard Steidl) que atualiza o livro original. A montagem da galeria proporciona um contexto muito eficaz para expressar a melancolia da obra de Heath. A luz baixa e as cores escuras das paredes dialogam com a técnica característica das fotografias de Heath. Considerado um talento da câmara escura por seus pares, (Robert Frank o pagou para produzir impressões de seus negativos em uma exposição do MoMA) Heath cria um estilo único que o distingue como autor. Utilizando técnicas de dodge and burn, o fotógrafo escurece ainda mais as áreas escuras da composição e destaca figuras através de superexposição parcial. O resultado é um contraste extremamente marcado que ressalta o sentimento de alienação que Heath busca expressar.

O enfoque na sequência do livro se repete na parede, criando um ritmo que se desdobra em grupos de duas ou três peças ao longo da exposição. A curadora usa a sucessão de rostos pensativos e perdidos para construir uma nova narrativa. Em uma das paredes há uma homenagem à publicação, fato que reflete a importância dos photobooks na história da fotografia. Ter acesso à estrutura da publicação e alguns dos textos justapostos com as imagens elucida um pouco mais o gênio artístico de Dave Heath. A maioria daqueles que apreciavam a obra de Heath no seu tempo o faziam através do livro, então é interessante que a exposição nos proporciona uma experiência parecida.

Uma seção pequena na parede contrária à entrada retrata uma fase mais inicial da obra de Heath, quando ele foi chamado para servir o Exército americano na Guerra da Coréia em 1952. Os retratos dos soldados colegas de Heath em serviço revelam um interesse e um talento para expressar sua própria angústia através da expressão facial dos outros. É importante citar que Heath também fotografou muitas pessoas negras durante a época em que o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos ganhava força e Martin Luther King liderava protestos e boicotes no sul do país. Sua obra captura figuras pensativas e melancólicas que, pelo menos em uma leitura, parecem refletir sobre o peso do mundo e suas injustiças.

Dave Heath, Washington Square, New York, 1960. Courtesy Howard Greenberg Gallery, New York and Stephen Bulger Gallery, Toronto (Photographer's Gallery)

Dave Heath, Washington Square, New York, 1960. Courtesy Howard Greenberg Gallery, New York and Stephen Bulger Gallery, Toronto (Photographer's Gallery)

O zeitgeist dos anos 1960 nos Estados Unidos é retratado na obra de Heath, mas na minha opinião também pode ser vista como uma expressão universal da solidão urbana na era industrial. A curadoria, infelizmente, resolveu focar na época mais do que na universalidade da obra. Me refiro à escolha de colocar quatro filmes (três num canto em rotação e um na parede principal) que de acordo com o texto na parede, bebem da mesma fonte e complementam a idéia da alienação e dos dilemas da década. Achei uma escolha corajosa mas não concordei com ela. Os filmes, com som aberto à sala, transformam completamente a atmosfera de tristeza contemplativa que a obra de Heath evoca. O som que ecoava das duas projeções (era possível ouvir as duas em qualquer lugar da galeria) atrapalhavam a imersão que a luz criava. Acredito que a obra de Heath não necessitava de nenhuma explicação ou complementação de outros meios e artistas que só tem o zeitgeist em comum. Talvez dar a opção aos visitantes de ouvir o áudio com fones e preservar o silêncio na galeria em geral fosse mais proveitoso.

Elevated in Brooklyn, New York City, 1963’ © Dave Heath; Courtesy Howard Greenberg Gallery, New York and Stephen Bulger Gallery, Toronto (Photographer's Gallery)

Elevated in Brooklyn, New York City, 1963’ © Dave Heath; Courtesy Howard Greenberg Gallery, New York and Stephen Bulger Gallery, Toronto (Photographer's Gallery)

Confesso que uma das coisas que mais me agradou na exposição, porém, foi a clareza da obra e a correspondência na instalação. Ao entrar na galeria, não há dúvidas sobre o objetivo do trabalho e a universalidade do sentimento. A discussão sobre a melancolia e a solidão em centros urbanos se revela extremamente relevante hoje em dia. Não é difícil imaginar esses mesmos rostos lânguidos nas fotografias de Heath olhando para smartphones no banco da praça. É interessante o poder da obra de retratar sentimentos humanos que são universais o suficiente para serem reconhecidos através do tempo. A obra de Heath proporciona essa conexão, e de certa forma a persona do gênio solitário que ele conscientemente cultivava se torna um arquétipo com o qual, na era da internet, todos nós podemos nos identificar, pelo menos um pouquinho.

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