José Marçal é fotógrafo e vive e trabalha em Berlim. Seu trabalho consiste em retratos nos quais o modelo se torna uma metáfora para o mundo interior do fotógrafo. Bebendo das fontes do erótico e do onírico, as imagens utilizam o corpo como um espaço para discutir sexualidade, liberdade e prazer estético. Nascido em Itabuna, na Bahia, José se mudou para o Rio de Janeiro na adolescência, onde se tornou um técnico no laboratório de fotografia da Agência Foto-in Cena. Após algumas viagens para o exterior, ele se instalou permanentemente em Berlim, Alemanha em 2006. Em 2014 ele completou seus estudos na Neue Schule für Fotografie Berlin
Os retratos de Marçal exibem uma variedade de modelos. Eles posam dentro do ateliê do artista, interagindo com objetos, máscaras e têxteis. Essas interações incutem uma qualidade surrealista nas imagens, adicionando elementos que as tiram da normalidade. O corpo do modelo está frequentemente em evidência, mas em sua obra, José consistentemente brinca com o que está escondido e o que é revelado. Em várias imagens faces são ocultadas e genitais aparecem à mostra, e vice e versa. Essa tensão enriquece as imagens com sugestões de desejo e prazer sexual. Por outro lado, também há traços de arte acadêmica: poses esculturais por vezes elevam as figuras para estéticas tradicionais da história da arte, distante dos prazeres mundanos. Influenciado pelo trabalho de fotógrafos de moda como Richard Avedon, a experiência com fotografia editorial que José possui também faz parte de suas imagens, visto que drapeado e indumentária muitas vezes conduzem a narrativa visual.
Além da linguagem do ensaio de moda, entretanto, as fotografias de José Marçal servem como um meio de expressão pessoal. A sensualidade das imagens é um exercício de liberdade: a de explorar prazer e sexualidade. Em algumas das imagens mais melancólicas, figuras sombrias e poses contorcidas podem representar expressões de dor, solidão ou tensão emocional. Por outro lado, o artista não evita regozijar-se no prazer estético. Efeitos coloridos, a constante presença de flores, e o aprumo de seus modelos despidos cria um espaço de celebração da beleza, sem receios. As imagens parecem tratar de sentimentos pessoais, mas elas também abrem caminho para discussões de cunho universal. Os modelos do artista, encontrados através de classificados, são voluntários sem conexão com o fotógrafo. José não busca produzir retratos que revelam algo sobre os modelos, mas simplesmente empresta suas figuras para discutir questões muito mais abrangentes e próximas da experiência humana. O nu, no trabalho do artista, pode ser visto como um nivelador, uma estratégia para representar a atemporalidade do eu, e do ser humano. Essa tentativa de se conectar com o público através de experiências em comum é proposital. Em todas as suas imagens, há um esforço para retirar o modelo do que é mundano, e elevá-lo para um espaço estético que exala elegância, aceitação e beleza. O nu, nesse sentido, se torna um meio de comunicar.
Os corpos no trabalho de José são metáforas para mundos possíveis. A câmera se torna um veículo para sonhar e desejar, e ao mesmo tempo serve como um meio de explorar tensões processadas pela câmera. Em todo caso, a fotografia de José Marçal é produto de uma visão pessoal. Através de sua abordagem única, José apresenta uma meticulosa exploração de seu mundo interior, transformado-o em imagem para que outros também possam participar nos prazeres e desafios de olhar para si.
Texto produzido para o artista em 2022. O trabalho pode ser encontrado em seu site pessoal: Jose Marcal Photography